A identidade e a autoestima da mulher depende da opinião dos outros.
A eterna busca por um padrão de beleza que o sistema impõe à mulher tem a ver com o patriarcado, um sistema medieval de poder que crê na inferioridade do sexo feminino e precisa mantê-lo sob suas rédeas. Em pleno século XXI ainda precisamos superar o poder institucional dos homens que está em todo lugar, inclusive no corpo da mulher, ordenando, entre outras coisas, que esse corpo deve suportar três ou mais jornadas diárias de trabalho, silenciá-lo por causa do moralismo e ainda correr freneticamente atrás da beleza perfeita e imortal.
Perseguir esse padrão de beleza é uma prisão, imaginária, mas uma prisão. E prisão perpétua, porque não tem fim por trata-se de algo irreal e inatingível, mas que, por exemplo, estimula a economia (dominada por homens) a aprimorar cada vez mais a indústria da estética com seus cremes, alimentos, remédios, chapinhas e aparelhos de ginástica. Isso não significa que as mulheres não devam se arrumar e se cuidar. Devem fazer isso e muito, porém de acordo com suas convicções.
Nessa roda viva, elas são julgadas todos os dias com base em suas aparências. Sentir-se bonita, conforme a sociedade quer, é uma obrigação e não um prazer. E isso provoca um sofrimento em todas: insegurança e sentimento de inferioridade naquelas que não tem dinheiro para “correr atrás” ou estão aquém do padrão ideal, ou frustração nas consideradas “bonitas” porque precisarão pagar preços cada vez mais altos para se manter. Algumas chegam mesmo a se mutilar fisicamente.
E assim, a identidade da mulher, a sua autoestima, o seu amor-próprio, não dependem dela, mas estão a mercê da opinião dos outros. A felicidade está nas mãos dos outros. Por isso que a luta para alcançar a igualdade de gênero passa pela mulher ter confiança no seu corpo e na sua beleza sem se importar com padrões. Pensar e agir assim incomoda e ajuda a abalar a estrutura da sociedade patriarcal.
Certa vez, em uma entrevista, a atriz norte-americana, Emma Stone, disse: “Eu não consigo pensar em nenhuma representação melhor da beleza do que uma pessoa que não tem medo de ser ela mesma. Aprender a gostar de si e da pessoa que vê no espelho é simplesmente libertador. Beleza é um conceito completamente relativo, não segue regras. Cada uma deve viver a sua própria beleza”.
Ou seja, ser bela é livrar-se das grades dessa prisão invisível chamada “ditadura da beleza”.
Dica Cultural
O Mito da Beleza, livro da escritora Naomi Wolf – A autora expõe por meio de dados estatísticos o quanto o culto e a exploração da beleza feminina é prejudicial, tanto psicologicamente, quanto em nível de carreira e conquistas pessoais. Naomi exibe a dor por trás das aparências ao relatar as relações da beleza feminina com o mundo.