Uma questão social que foi fortalecida com o passar do tempo.
Todo mundo, com certeza, já ouviu frases como: “homem não chora”, “homem de verdade não faz isso”, “meninas devem se comportar como princesas”, “meninas vestem rosa e meninos vestem azul”. Com o passar dos anos, homens e mulheres assumem esses estereótipos e isso tem reflexos danosos em nossas vidas e na sociedade.
No caso dos homens, desde cedo são encorajados a viver provando a virilidade em todo e qualquer lugar, em toda e qualquer situação: seja no trânsito, no trabalho, na universidade, nos relacionamentos. Isso é masculinidade tóxica, um comportamento nocivo que os homens adquirem e que violenta as mulheres de todas formas. Conheça mais sobre este assunto, neste artigo da publicação “El Hombre”.
O que é masculinidade tóxica
Você já ouviu falar no termo masculinidade tóxica? Resumidamente, podemos dizer que a masculinidade tóxica se refere às características que a sociedade tende a atribuir de maneira estereotipada ao sexo masculino, sendo estas nocivas ou restritivas aos próprios homens ou às pessoas que estão ao seu redor.
Ela é fruto de um conjunto de mitos que a sociedade transmite aos garotos e aos homens sobre o que significa ser um “homem de verdade”, que contém ameaças implícitas ao seu valor, à sua identidade caso não ajam de acordo com tais expectativas. Exemplos incluem:
MITO #1: Cabe a um homem estar sempre sob controle e jamais demonstrar tristeza, medo, ansiedade ou vulnerabilidade emocional.
MITO #2: Cabe a um homem fazer sexo sempre que houver oportunidade para tanto, e todo homem cuja libido não funciona adequadamente é desprovido de valor.
MITO #3: Cabe a um homem agir de maneira agressiva e competitiva sempre.
MITO #4: Cabe a um homem expressar interesse por coisas como futebol, cerveja e sexo. Se não o faz, ele é afeminado.
MITO #5: Não é conveniente que um homem seja delicado ou compassivo.
MITO #6: Cabe a um homem ser forte e poderoso o bastante para conquistar todas as coisas que deseja, tanto para si mesmo quanto para aqueles que ama.
MITO #7: Cabe a um homem ser perfeitamente autossuficiente e atingir o sucesso sem que o auxiliem ou o apoiem de maneira alguma.
MITO #8: Cabe a um homem exercer domínio sobre todas as mulheres de sua vida.
MITO #9: Cabe a um homem exercer domínio sobre os homens mais fracos do que ele.
MITO #10: Cabe a um homem sustentar a casa sozinho e, se ele não conseguir, não é um homem de verdade.
A masculinidade tóxica não se refere meramente às pressões sociais exercidas sobre os homens, mas ao modo como estes lidam com tais pressões. Há, por exemplo, homens que procuram agir de modo “hipermasculino” com o propósito de evitar quaisquer dúvidas relativas à sua masculinidade. Isso é prejudicial tanto aos próprios homens quanto às pessoas ao seu redor.
Em contrapartida, deve-se dizer que não são apenas os homens que absorvem tais mitos a respeito da masculinidade. Tendo em vista a educação que recebemos, também são muitas as mulheres que julgam os homens ao seu redor de acordo com tais padrões, seja consciente ou inconscientemente.
De resto, é importante frisar que trata-se de um padrão inatingível. Ninguém é capaz de exercer controle sobre todas as situações, e ninguém possui a capacidade de viver com saúde e contentamento sem algum apoio de ordem emocional.
Como lidar com a masculinidade tóxica
Isso significaria que os homens são intrinsecamente tóxicos? É claro que não! Aliás, não significa sequer que a masculinidade seja tóxica por natureza. Trata-se mais de uma questão social que foi fortalecida com o passar do tempo.
E como resolver esse conflito? A questão é se aceitar (e agir) de acordo com sua verdadeira personalidade, sem ceder à pressão de se encaixar em estereótipos. Não que seja fácil. Isso demanda um esforço constante, além de altas doses de autoanálise e reflexão.
Além disso, nada te impede de ser um homem determinado, forte, valente — e incorporar à sua vida característica positivas que, tradicionalmente, são associadas ao sexo feminino. Como a sensibilidade, a empatia, o acolhimento.
Por que não queremos o melhor dos dois mundos? A masculinidade e a feminilidade não estão necessariamente em conflito, mas complementam uma a outra e, em maior ou menor medida, estão presentes em cada um de nós.
Dica cultural sobre o assunto
Documentário “O Silêncio dos Homens”, disponível no You Tube. Provoca uma reflexão sobre o modelo de masculino que se impõe sobre meninos e homens e como isso acaba por silenciá-los. Revela também dados inéditos sobre a masculinidade no Brasil, como por exemplo, 72% dos quase 20 mil entrevistados responderam que foram ensinados a não demonstrar fragilidade.