Na CPI da Vale, o presidente do Sindifisco/Pará, Charles Alcantara, defendeu a criação de um gabinete que atue para promover uma tributação mais justa às mineradoras.
Ao participar como convidado da CPI da Vale na Assembleia Legislativa na manhã desta quarta-feira (16), o presidente do Sindifisco/Pará, Charles Alcantara, aconselhou o governo do Estado a criar um gabinete para pensar estratégias que mudem a lógica da exploração mineral, que gera lucros exorbitantes para os acionistas das mineradoras, especialmente da Vale, mas que contribui muito pouco para o desenvolvimento do Pará.
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Alcantara alertou que não se trata de atacar ou estigmatizar uma empresa, mas “de colocar os pingos no is. Não podemos mais conviver com décadas de uma exploração mineral injusta e trocar o nosso desenvolvimento por espelhos e pequenos programas de responsabilidade social”.
Ao mencionar o artigo “Vale: uma empresa financeirizada”, dos economistas Luiz Gonzaga Belluzzo e Fernando Sarti, o presidente do Sindifisco mostrou que a empresa pratica uma política agressiva para gerar lucros imediatos, ou seja, se limita basicamente ao enriquecimento de seus acionistas. E os dados são estarrecedores: de acordo com o artigo, em 2017, a Vale destinou 33% de seu valor adicionado para os acionistas e apenas 21% foram para impostos, taxas e contribuições para o estado.
Ele destacou ainda que apenas nos primeiros três meses deste ano, a Vale teve um lucro líquido de R$ 31 bilhões, o que representa um ano inteiro de orçamento do Pará.Para Charles Alcantara, a mineração precisa ser a atividade econômica que mais deve contribuir tributariamente. Antes, a professora Maria Amélia Enriques, parceira do Sindifisco na pesquisa sobre Mineração e desenvolvimento no Pará – mostrou na CPI que a tributação mineral no Brasil destoa do resto do mundo. Enquanto em nosso país as empresas mineradoras não chegam a ser tributadas em 14%, na África do Sul, Chile, Austrália, México e Canadá o índice chega a 40%.
“Precisamos usar a renda mineral, que é um super lucro, para gerar emprego e diversificar a economia”, declarou o sindicalista. Alcantara endossou as palavras de Lúcio Flávio Pinto que escreveu recentemente sobre a necessidade de reflexão à elite política, empresarial e governamental do Pará para que tenham a capacidade de dialogar para solucionar esse impasse.
Sindifisco marca presença
A professora Maria Amélia Henriques apresentou aos membros da CPI dados da pesquisa que vem desenvolvendo em parceria com o Sindifisco. Para ela, a CPI não deve discutir o sucesso da atividade mineral, mas sim verificar a importância da mineração para o desenvolvimento do Estado. “Precisamos de uma estratégia para definir como usar a mineração para o desenvolvimento do Pará”.
Ela aproveitou para dar dois conselhos à Vale. Primeiro, que a empresa seja mais ativa na atração de negócios, como fez no Ceará, por exemplo, onde uma indústria gera cinco mil empregos. Segundo, investir em Ciência, Tecnologia e Inovação porque nenhum país se desenvolve sem isso”. “Há espaço para a Vale no Parque Tecnológico do Guamá”, encerrou.
No primeiro dia de audiências públicas, o vice-presidente do Sindifisco, Antônio Catete, também deu a sua contribuição para a CPI da Vale.
“Como sou da área tributária, é importante destacar que a mineração responde por 13%5 do Produto Interno Bruto (PIB) do nosso Estado, mas a empresa Vale gera menos de 2% de empregos. Se esta empresa parar de funcionar no Estado, qual legado ela vai deixar? Como a empresa está contribuindo com o nosso estado? São perguntas que são necessárias serem respondidas”, argumentou.