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03/12/2021

Mineradoras e a guerra da informação

Jornalista Lúcio Flávio Pinto criticou o jornalismo atual por ser mero reprodutor do discurso da Vale e outras mineradoras. Ele defende que o debate sobre a mineração precisa chegar na população.

“Às vezes fico com a sensação que andamos no sentido contrário devido à nossa incapacidade de mudar as regras do jogo. E, assim, o Pará colonizado caminha para o mesmo destino dos países da África e da Ásia”, desabafou o jornalista Lúcio Flávio Pinto, ao falar sobre mineração durante o Seminário Internacional “Justiça Fiscal, Desigualdade e Desenvolvimento no Estado do Pará”, promovido pelo Sindicato dos Servidores do Fisco Estadual (Sindifisco), em Belém.
Segundo ele, somos apenas cenário e cada vez mais se oculta a verdade. “O debate sobre a mineração precisa chegar à população de uma forma mais ampla, pois não é um tema que esteja ao alcance da sociedade. Por isso, o debate público é fundamental para que a informação chegue a quem interessa que é o povo”.
Lúcio Flávio lamentou que estejamos perdendo a batalha da informação para as grandes empresas mineradoras, porque os jornalistas se acomodaram aos press-releases das empresas. “A Vale não publica mais seus balanços anuais em papel, mas investe muito na divulgação do balanço social, se escudando no discurso da proteção ambiental. Cadê o barulho da crítica, sem o qual não existe verdadeira democracia?”, indagou.
O jornalista disse que foi analisando detidamente o balanço financeiro da empresa e relacionando os dados dela extraídos com situações mundiais é que chegou à conclusão que a empresa foi a que mais distribuiu dividendos (lucros) em todo mundo já em 2005. “Não por acaso, foi o ano em que a Vale deixou de publicar o balanço em um álbum em papel, continuando apenas com o balanço da sustentabilidade, para inglês ver. A financeirização da mineradora, só registrada recentemente, já estava em pleno curso”.
Lúcio criticou a “leseira” do paraense e conclamou os cidadãos que se alimentam pelo menos três vezes por dia a tentar eliminar a distância entre o momento em que o fato ocorre e a percepção desse fato, e agir para mudar o enredo de uma história que tem sido tão ruim para os paraenses.