Deputada federal e auditora fiscal do Pará comenta o universo feminino. Servidora do Fisco estadual hoje com mandato no Congresso Nacional, depois de duas legislaturas na Assembleia Legislativa do Pará como atuante parlamentar, a deputada federal Simone Morgado (PMDB) concedeu entrevista no transcurso do Dia da Mulher, comemorado no dia 8, ao site do Sindicato dos Servidores do Fisco Estadual do Pará (Sindifisco-PA). Aqui, a única mulher eleita no Pará como representante das Carreiras da Administração Tributária (CAT) em Brasília fala sobre as questões de gênero que ainda em pleno século 21 excluem e violentam os direitos das mulheres.
Desde 2005, Simone Morgado está afastada do Fisco para dedicar-se à atuação política. Na maior conquista da categoria – a aprovação da Lei Orgânica da Administração Tributária (Loat), a então deputada estadual desempenhou papel fundamental na trajetória do projeto de lei vitorioso. Os mandatos exercidos na AL com valentia na defesa de projetos sociais polêmicos e preocupação voltada ao fortalecimento da categoria e dos contribuintes paraenses fizeram o passaporte para a eleição federal.
Disputa de espaço no Poder Legislativo, subsalários, mercado de trabalho e movimento feminista não ficaram de fora da entrevista, feita por meio eletrônico pela assessoria de comunicação do sindicato. Confira:
P – A senhora é deputada federal e pertence à carreira da administração tributária, exercendo cargo da auditora fiscal de receitas do Estado. Sindicalizada, você sempre teve atuação política. Gostaria de saber: mesmo nos dias atuais, é difícil ser mulher e estar na política?
R – Confesso que ainda é um desafio ser mulher e optar por exercer a política. Ainda temos muito a conquistar nessa área, onde o protagonismo feminino é muito desproporcional ao exercido nas demais profissões. Estamos cada vez mais presentes no mercado de trabalho em diversas áreas. Os estudos mostram que as mulheres brasileiras possuem hoje níveis de escolaridade, em muitos casos, superiores aos homens. Mas está provado que em nenhum âmbito da vida social a participação de mulheres e homens é tão desigual como no exercício do poder. Por isso, ingressar na política é, ainda hoje, um enorme desafio para as mulheres brasileiras. Mas estamos vencendo, estamos conseguindo derrubar barreiras. Vejam só a caso da Câmara dos Deputados nesta Legislatura (2015/2019): temos duas mulheres fazendo parte da Mesa Diretora da Câmara e agora, na semana que passou, conseguimos eleger mulheres para comandar quatro das 23 comissões permanentes da Casa, o que é um feito extraordinário, tendo em vista que, dos 513 deputados federais eleitos, apenas 51 são mulheres.
P – Ser empossada num cargo político mudou o seu olhar sobre o poder da mulher?
Eu não diria que mudou sobre o ponto de vista do poder, mas sim – e que considero ser mais importante – sobre a questão da igualdade de direitos. Se por um lado o Brasil foi um dos primeiros países da América Latina a conceder o direito ao voto, por outro, está entre as nações que apresentam a mais baixa representação política feminina no Ocidente. O direito das mulheres de participar da esfera pública, particularmente das instâncias de decisão, sobretudo o direito de se habilitar a cargos executivos ou legislativos, vem sendo conquistado por meio de um longo processo de lutas. O nosso direito, o direito de estarmos participando da construção política e social do nosso país encontrou e, por incrível que pareça, continua encontrando, inúmeros obstáculos de ordem material (tempo, dinheiro, subordinação formal à autoridade paterna ou conjugal); de ordem subjetiva (a ideia de que política é coisa de homens, restrições familiares, culpas); além da realidade a ser enfrentada, já que os lugares, cargos e vagas para a disputa política já estavam ocupados e estruturados segundo critérios, dinâmicas, valores e referenciais masculinos. Então, não é algo tão simples quanto parece. Mas estamos caminhando bem e consigo vislumbrar um futuro no qual estaremos participando em total igualdade de direitos com os homens.
P – Como a senhora avalia os movimentos feministas atuais?
R – Vivemos hoje uma época de significativa atuação das mulheres em movimentos sociais, tais como associações, sindicatos, entidades de classes, entre outros. Ou seja, as bandeiras são pela valorização da mulher como um todo: em seu aspecto profissional, de representatividade, por melhorias salariais e direitos trabalhistas, enfim, vejo hoje que são estes movimentos que impulsionam a luta pelos direitos das mulheres. Devido à pressão organizada por esses movimentos, que passaram a ter uma atuação mais efetiva de mulheres, o mundo abriu os olhos para o problema do acesso aos cargos de decisão. Sim, porque não é apenas o Brasil que enfrenta a sub-representação feminina. Esta questão passou a ser objeto de atenção de governos e organismos internacionais, resultando em assinaturas de compromissos e programas oficiais de estímulo à participação política feminina. Se muitos desses compromissos não saíram do papel, é fato que o reconhecimento público contribuiu para dar maior visibilidade à sub-representação feminina e tornar a questão um problema da democracia e não uma questão privada e individual das mulheres. E esta vitória é, sem sombra de dúvidas, da participação feminina nestes movimentos sociais.