Quando descobriram os al\u00e7ap\u00f5es na legisla\u00e7\u00e3o fiscal brit\u00e2nica com que as gigantes multinacionais evitam pagar impostos no Reino Unido, os comerciantes de Crickhowell n\u00e3o se ficaram pela f\u00faria e m\u00e1 l\u00edngua. Resolveram agir e mobilizar os seus concidad\u00e3os. Agora, garantem, v\u00e3o aplicar os mesmos m\u00e9todos contabil\u00edsticos usados por empresas como a Google ou a Amazon e converter a localidade num “offshore”.<\/p>\n

Crickhowell, uma terreola com menos de 2 800 habitantes, situada no Pa\u00eds de Gales, est\u00e1, assim, em p\u00e9 de guerra. A revolta amea\u00e7a converter-se numa aut\u00eantica revolu\u00e7\u00e3o capaz de varrer o Reino Unido.<\/p>\n

Sob a jurisdi\u00e7\u00e3o brit\u00e2nica existem alguns para\u00edsos fiscais, como na ilha de Jersey ou as ilhas Virgens brit\u00e2nicas. A dimens\u00e3o do esc\u00e2ndalo dos \u201coffshores\u201d no Reino Unido veio \u00e0 luz do dia, h\u00e1 um ano, na sequ\u00eancia de uma investiga\u00e7\u00e3o jornal\u00edstica do Guardian<\/em> em colabora\u00e7\u00e3o com o Cons\u00f3rcio Internacional de Jornalistas de Investiga\u00e7\u00e3o. Nesse trabalho detetou-se o uso de para\u00edsos fiscais por cerca de 20 mil entidades e indiv\u00edduos brit\u00e2nicos, entre eles alguns financiadores do Partido Conservador, que ter\u00e1 recebido por essa via cerca de oito milh\u00f5es de libras (\u20ac11,3 milh\u00f5es).<\/p>\n

H\u00e1 v\u00e1rios anos que o governo brit\u00e2nico se diz intolerante para com a evas\u00e3o fiscal. E num relat\u00f3rio do executivo l\u00ea-se mesmo que \u201cno passado, as contas ‘offshore’ e outros esquemas complexos estiveram envoltos em secretismo, ao ponto de algumas pessoas terem sentido que se podiam eximir \u00e0s suas responsabilidades contributivas\u2026 Esses dias acabaram\u201d.<\/p>\n

Mas grande quest\u00e3o nem sequer \u00e9 o crime de fuga ao fisco \u2013 um ato il\u00edcito \u2013 mas sim a quantidade de lacunas na legisla\u00e7\u00e3o, aproveitadas por advogados especializad\u00edssimos na cria\u00e7\u00e3o de esquemas de \u201cotimiza\u00e7\u00e3o fiscal\u201d para os seus clientes.<\/p>\n

E s\u00e3o essas lacunas que os habitantes de Crickhowell contestam, com as micro-empresas da vila a alegarem estarem a ser v\u00edtimas de concorr\u00eancia desleal por parte das grandes cadeias.<\/p>\n

Como exemplos referem a Amazon, que, no Reino Unido, fatura 5 300 milh\u00f5es de libras (cerca de \u20ac7 500 milh\u00f5es) em vendas online, mas pagando apenas 11,9 milh\u00f5es (\u20ac16,4 milh\u00f5es) de impostos; o gigante do caf\u00e9 Starbucks que, desde a abertura da sua primeira loja em Londres, h\u00e1 17 anos, ter\u00e1 pago ao fisco somente 8,6 milh\u00f5es de libras. Outros casos s\u00e3o o da cadeia Caff\u00e9 Nero, que n\u00e3o pagar\u00e1 imposto sobre os lucros desde 2008, e a todo-poderosa Google, tributada em 20 milh\u00f5es de libras sobre mais de 3 500 milh\u00f5es de receitas geradas no Reino Unido.<\/p>\n

A rebeli\u00e3o envolve, entre outras, uma empresa artesanal de salm\u00e3o, fumado, um caf\u00e9 da terra, uma livraria e uma padaria.<\/p>\n

Aconselhadas por peritos, as micro-empreas de Crickhowell \u2013 muitas delas h\u00e1 tr\u00eas gera\u00e7\u00f5es na mesma fam\u00edlia \u2013 uniram-se e j\u00e1 apresentaram, \u00e0s autoridades tribut\u00e1rias de Sua Majestade planos fiscais, que foram copiar aos esquemas de \u201cotimiza\u00e7\u00e3o fiscal\u201d que os \u201cgrandes\u201d usam para evitar pagar impostos.<\/p>\n

A filosofia subjacente ao movimento n\u00e3o \u00e9 propriamente a de \u201cou h\u00e1 moralidade ou comem todos\u201d, nem a de \u201cse n\u00e3o os podes vencer, junta-te a eles\u201d. \u00c9 mais uma atitude c\u00edvica que visa dar o exemplo. \u00c9 contagiar outras localidades, levando-as a fazerem o mesmo, para pressionar o governo a tapar os buracos na legisla\u00e7\u00e3o que permitem \u00e0s multinacionais fugir ao fisco dentro da legalidade.<\/p>\n

E isso est\u00e1 patente nas declara\u00e7\u00f5es de Jo Carthew, propriet\u00e1ria do fumeiro de Salm\u00e3o, ao The Independent<\/em>: \u201cFic\u00e1mos chocados ao descobrir que as receitas geradas pelos trabalhadores, que d\u00e3o o litro nessas cadeias internacionais, n\u00e3o s\u00e3o declaradas.\u201d<\/p>\n

E para que n\u00e3o haja mal-entendidos, acrescentou: \u201cN\u00f3s queremos pagar os nossos impostos, porque todos usamos as escolas e os hospitais. Mas pretendemos uma mudan\u00e7a da legisla\u00e7\u00e3o para que todos paguem a sua justa parte\u201d.<\/p>\n

A revolta c\u00edvica de Crickhowell \u00e9 acompanhada a par e passo por uma equipa da BBC, que est\u00e1 a rodar um document\u00e1rio intitulado \u201cA vila quese tornou uma ‘offshore'”, e que dever\u00e1 ser transmitido em 2016, levando luz ao sombrio mundo do relacionamento das grandes empresas com o fisco.<\/p>\n

Fonte:<\/strong> www.visao.sapo.pt<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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